sexta-feira, maio 06, 2022

A caixa do menino Binnie.

Faltou luz, mas  energia nunca falta para Binnie Boy, que é uma usina nuclear em pleno vapor. Sempre. 

Em meio ao breu, Binnie tomou mão de um banquinho e subiu no alto de seu guarda-roupas para puxar aquela caixa empoeirada que guarda como um tesouro.

Intrépido e serelepe que é, Binnie imprimiu um rótulo feito no paint brush "Kit de sobrevivência para os dias de tédio". Isso deve ter sido em 2006, quando ainda não éramos tão dependentes da nuvem e precisávamos guardar coisas em caixa. Talvez éramos mais felizes, pois não amargavamos a frustração de ficar sem música e sem filmes quando a Internet cai.

Ao longo dos anos, Binnie colecionou naquela caixa todo tipo de quinquilharia: Seus CDs  favoritos da época de ensino médio, com músicas do Pink Floyd que ele mesmo selecionara e gravara em seu computador novadata.

 Havia também outros discos bem exclusivos, autografados pelo DJ Gegê da coleção DJ Mix. DJ Gegê era uma figuraça. Um dia vou falar dele, mas vale aqui abrir um parêntese: Se ele fazia miséria nas pick-ups só baixando músicas no E-mule, imagina se em seus áureos tempos de discotecagem, Gegê pudesse fazer uma playlist no Spotify.

Binnie Boy vasculhando a caixa encontrou fitas cassete da época em que passava as tardes ouvindo rádio caçando músicas para encher as fitas. Seu "Kit de sobrevivência para os dias de tédio" não tinha apenas acervo musical. Dentro da caixa do menino Binnie também havia cartas de amor seladas que nunca foram enviadas, papéis de bala, ingressos de shows e cinema, guardanapo com marca de batom da Starbucks, uma moleskine surrada repleta de anotações aleatórias, grampo de cabelo, isqueiro que não mais funciona, uma edição amarelada de 1984 e até um Porta Tazo abarrotado de tazos do animaniacs, resquício de sua infância feliz.

 Embora fosse inutilidade para muitos, cada item tinha (e tem) um valor único especial para o nosso menino, que o faz remeter para algum momento agradável de sua vida.

A caixa é seu relicário. Não é muito grande, mas é suficiente para guardar suas memórias.

Naquele breu, Binne bateu o pé: "fico sem luz, mas não fico sem música. Não fico sem Roger Waters." 

Menino Binnie sacou da caixa alguns discos que ele mesmo havia gravado. Foi em sua gaveta de eletrônicos e achou um discman que sabia que ainda funcionava. Pegou as pilhas do controle da TV, que naquele momento não tinha serventia, ligoube e enfim sentiu a música.

Binnie não encontrou apenas um paleativo ao tédio gerado por um blackout. Binnie encontrou em suas memórias  a liberdade de um grilhão chamado tecnologia em nuvem.

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