O despertar e a ambivalência do eu: Freud e Lacan
A abertura da música — “I’m gonna wake up, yes and no” — apresenta a tensão inicial do sujeito entre permanecer na inconsciência e se abrir à introspecção. Freud nos ensinaria que essa ambivalência é própria da relação entre id e ego: parte de nossa psique deseja manter padrões automatizados de prazer e segurança, enquanto outra parte aspira à consciência plena. Lacan complementa essa leitura ao apontar que o sujeito se constitui na relação com o Outro e na confrontação com a falta constitutiva que estrutura o desejo. O “sim e não” é, portanto, uma expressão da tensão entre ego e alma, entre identidade ilusória e potencial de transcendência.
O corpo, o prazer e a disciplina
Frases como “I’m gonna close my body now” e “I’m gonna delay my pleasure” indicam a suspensão dos impulsos imediatos, uma disciplina consciente sobre os desejos corporais. Sob a lente freudiana, trata-se de uma repressão funcional, não punitiva, necessária para permitir o acesso ao inconsciente. Lacan, por sua vez, interpretaria esse gesto como uma passagem do registro imaginário — dominado pelo ego e pela imagem de si mesmo — para o registro simbólico, no qual o sujeito aprende a organizar seu desejo de forma ética e criativa.
A Cabala oferece uma dimensão espiritual a essa disciplina. Nomes como Lehahiah e Laaiah auxiliam na purificação da consciência e no distanciamento do ego, funcionando como catalisadores de autodomínio e clareza interior. Nesse sentido, o ato de fechar o corpo é simultaneamente psíquico e espiritual: é um gesto de proteção, reflexão e preparação para a transformação.
A repetição e a morte simbólica do ego
O refrão insistente — “I guess I’ll die another day” — deve ser compreendido como uma morte simbólica do ego. A repetição da frase reflete a resistência natural à mudança, característica central do inconsciente freudiano. Lacan nos recorda que o sujeito nunca se realiza completamente; o ego sempre retorna de forma parcial, criando ciclos de desejo e frustração. No contexto cabalístico, o nome Laaiah representa a libertação das limitações pessoais e o rompimento de padrões repetitivos. Assim, o refrão atua como mantra moderno: a morte do ego é inevitável, mas seu processo se dá em etapas conscientes.
O confronto com a psique: “Siegmund Freud, analyse this”
Ao invocar Freud, Madonna transforma a canção em um exercício de introspecção, reconhecendo a necessidade de enfrentar os conteúdos reprimidos. Essa autoanálise é simultaneamente freudiana e cabalística: o sujeito confronta suas sombras, identifica padrões destrutivos e invoca forças superiores para auxiliar na reintegração psíquica e espiritual. O nome Melahel na Cabala, por exemplo, fortalece o discernimento e a compreensão das motivações ocultas, permitindo que a consciência se expanda.
Ruptura, renascimento e busca de um caminho superior
Versos como “I’m gonna break the cycle / I’m gonna destroy my ego / I think I’ll find another way” articulam o núcleo da libertação: romper padrões automáticos, desfazer a identificação com a persona e buscar o caminho da alma. Freud reconheceria nesse movimento a superação da repetição compulsiva; Lacan, a transição do imaginário para o simbólico. Na Cabala, nomes como Ieiazel e Vehuél facilitam essa ruptura, promovendo a abertura para novas formas de ser e perceber.
Responsabilidade, equilíbrio e maturidade espiritual
“I think I’ll find another way / For every sin I’ll have to pay / A time to work, a time to play” evidencia a aceitação da responsabilidade pelas próprias ações e a compreensão da vida como campo de aprendizado equilibrado. Sob a perspectiva freudiana, é o reconhecimento do princípio de realidade; Lacan acrescentaria que o desejo deve ser articulado dentro de limites éticos; e na Cabala, nomes como Leluyah auxiliam a harmonização entre ação e reflexão.
A cultura pop como espaço de transcendência
Die Another Day mostra que a cultura pop pode ser veículo de reflexão profunda, integrando psicanálise, filosofia e espiritualidade. Madonna transforma a música em um rito de passagem contemporâneo, no qual o ouvinte é convidado a reconhecer o ego, confrontar o inconsciente e abrir-se à dimensão espiritual da existência. O processo de repetição, suspensão do prazer e ruptura com padrões automatizados converge para a libertação do ego, ecoando ensinamentos da Cabala sobre os 72 nomes de Deus.
A música, portanto, não é apenas entretenimento, mas um espaço de introspecção e transformação: um guia contemporâneo para a consciência, onde cada verso funciona como um passo no caminho da alma, cada refrão como mantra e cada silêncio como oportunidade de encontro consigo mesmo.
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