segunda-feira, outubro 13, 2025

Da Filosofia Moderna à Filosofia Contemporânea: Uma Revisão dos Paradigmas e dos Pensadores que Marcaram a História do Pensamento

 


A história da filosofia é marcada por grandes rupturas e transformações paradigmáticas que acompanham as mudanças culturais, científicas, políticas e sociais da humanidade. A passagem da Filosofia Moderna para a Filosofia Contemporânea representa um desses momentos decisivos, em que o próprio sentido da razão, da verdade e do sujeito passa a ser questionado de forma inédita.

Filosofia Moderna: A Centralidade da Razão e do Sujeito

A Filosofia Moderna tem seu marco inicial no século XVI, desenvolvendo-se fortemente entre os séculos XVII e XVIII. Ela surge em um contexto de profundas transformações: o surgimento da ciência moderna, o Renascimento, a Reforma Protestante e a consolidação dos Estados nacionais. É uma filosofia que se estrutura em torno da crença no poder da razão humana como instrumento de conhecimento, domínio da natureza e organização da vida social.

O sujeito, enquanto consciência pensante e autônoma, torna-se o centro do pensamento filosófico moderno. A busca é por fundamentos seguros, pela verdade objetiva e pela construção do saber a partir de princípios racionais.

Principais Pensadores da Filosofia Moderna:

  • René Descartes – pai do racionalismo moderno; busca a certeza através da dúvida metódica (“Penso, logo existo”).

  • Francis Bacon – fundador do empirismo moderno e da metodologia científica.

  • John Locke – empirismo e teoria da tábula rasa; origem do conhecimento na experiência.

  • Baruch Spinoza – racionalismo e panteísmo; Deus como substância única.

  • Gottfried Leibniz – harmonia pré-estabelecida e mônadas; racionalismo matemático.

  • David Hume – crítica ao empirismo e ao conceito de causalidade; ceticismo moderado.

  • Immanuel Kant – ponto culminante e ao mesmo tempo de ruptura; sintetiza racionalismo e empirismo, inaugurando a chamada filosofia crítica.

Kant é, sem dúvida, o grande marco de transição dentro da própria modernidade, ao colocar os limites da razão como questão central.

Paradigma da Filosofia Moderna:

  • Centralidade do Sujeito.

  • Confiança na Razão como fonte de conhecimento e emancipação.

  • Busca por fundamentos universais e seguros.

  • Otimismo quanto ao progresso científico, técnico e moral.


O Ponto de Virada: Da Crítica da Razão ao Questionamento do Sujeito

O ponto de virada entre a Filosofia Moderna e a Filosofia Contemporânea ocorre na virada do século XIX para o século XX, mas suas raízes começam antes, com pensadores que já questionavam os limites da razão moderna.

Essa transição é marcada por:

  • A crítica às pretensões absolutas da razão.

  • O questionamento da ideia de um sujeito universal, autônomo e transparente a si mesmo.

  • A percepção de que o mundo, o conhecimento e os valores são atravessados por historicidade, linguagem, cultura, desejo e relações de poder.

Entre os pensadores de transição estão:

  • G.W.F. Hegel – a razão dialética, histórica, que se realiza no tempo e no processo social.

  • Karl Marx – introduz a crítica materialista; o ser social determina a consciência.

  • Friedrich Nietzsche – crítica aos valores modernos, à metafísica e à noção de verdade; morte de Deus.

  • Søren Kierkegaard – precursor do existencialismo; angústia, subjetividade e escolha.

  • Sigmund Freud – introduz o inconsciente, rompendo com a ideia de um sujeito plenamente racional e consciente.


Filosofia Contemporânea: Fragmentação, Crítica e Multiplicidade

A Filosofia Contemporânea, surgida no século XX, se desenvolve num contexto de grandes crises: as guerras mundiais, o colapso dos impérios coloniais, o avanço tecnológico sem paralelo, o crescimento das democracias e das lutas sociais. Este é um tempo que testemunha o descrédito em relação às narrativas totalizantes e às certezas metafísicas.

Principais Correntes e Pensadores da Filosofia Contemporânea:

  • Fenomenologia: Edmund Husserl, Maurice Merleau-Ponty.

  • Existencialismo: Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus.

  • Hermenêutica: Hans-Georg Gadamer, Paul Ricoeur.

  • Estruturalismo: Claude Lévi-Strauss, Louis Althusser.

  • Pós-estruturalismo e Desconstrucionismo: Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze.

  • Teoria Crítica: Escola de Frankfurt (Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas).

  • Filosofia Analítica: Bertrand Russell, Ludwig Wittgenstein, Willard Quine.

  • Feminismos e Estudos de Gênero: Judith Butler, Angela Davis, Simone de Beauvoir (também no existencialismo).

  • Estudos Pós-coloniais e decoloniais: Frantz Fanon, Gayatri Spivak, Boaventura de Sousa Santos, Aníbal Quijano.

Paradigma da Filosofia Contemporânea:

  • Crise do Sujeito: o sujeito não é mais entendido como unidade autônoma, mas como construção histórica, linguística, cultural e inconsciente.

  • Crítica à Razão Totalizante: desconfiança em relação aos projetos de universalização e às metanarrativas.

  • Valorização da Diferença: multiplicidade de vozes, saberes, corpos, culturas e experiências.

  • Centralidade da Linguagem, do Discurso e do Poder: o mundo não é apenas conhecido, mas também construído pelas práticas discursivas.

  • Interdisciplinaridade: aproximações com a psicanálise, a sociologia, a antropologia, a política, as ciências cognitivas e a literatura.

Síntese Final: O Fio que Liga e o Quebrar das Linhas

Se na modernidade buscava-se a construção de uma verdade segura a partir da razão e de um sujeito universal, a contemporaneidade nos convida a habitar a incerteza, a multiplicidade e a complexidade. Não há mais uma única verdade, mas sim a disputa de narrativas, discursos e interpretações.

É na transição do sujeito autônomo cartesiano para o sujeito fragmentado e plural da contemporaneidade que reside o ponto de inflexão mais profundo da história da filosofia.

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