Você já percebeu como, ultimamente, os adultos estão cada vez mais fascinados por brinquedos que, em teoria, deveriam ser "coisa de criança"? Essa tendência tem ganhado força, e um exemplo recente vem do McDonald's na Espanha, que lançou um McLanche Feliz para adultos com brindes temáticos da série Friends. Mas o que está por trás desse comportamento? Será que é só nostalgia ou tem algo mais profundo acontecendo? Vamos explorar isso sob a luz da psicanálise.
O brinquedo como um portal para a infância idealizada
Na psicanálise, o conceito de regressão nos ajuda a entender essa busca pelo passado. Regressar, aqui, não significa retroceder de forma negativa, mas voltar a momentos onde a vida parecia mais leve e simples. A infância é frequentemente idealizada como um período em que nossas maiores preocupações giravam em torno de brincar, imaginar e se conectar com os outros. Quando um adulto compra um brinquedo colecionável, como um bonequinho de Friends, ele está, na verdade, buscando se reconectar com essa "época mágica".
Freud chamava isso de lembrança encobridora: usamos pedaços do passado para lidar com as tensões do presente. Assim, o brinquedo não é só um objeto; é uma âncora emocional que nos transporta para uma época onde responsabilidades e ansiedades eram desconhecidas.
A “criança interior” e sua busca por acolhimento
Carl Jung, por sua vez, fala sobre a criança interior, essa parte de nós que nunca desaparece completamente. Ela carrega nossos desejos, memórias e até algumas feridas da infância. Ao nos permitirmos consumir algo que remete à infância, como um brinquedo de um McLanche Feliz, estamos atendendo a essa criança interna. É um gesto de cuidado consigo mesmo, como quem diz: "Eu vejo você, eu te reconheço, e está tudo bem querer um pouco de alegria simples".
Esse fenômeno também revela um desejo de simbolizar afetos. Não é por acaso que a série Friends foi escolhida para o McLanche Feliz espanhol. A série representa laços de amizade e conforto emocional, algo que os adultos, em meio às complexidades da vida moderna, estão sempre tentando resgatar. Quando seguramos aquele bonequinho, estamos, de alguma forma, segurando um pedaço dessas sensações.
A jogada estratégica do McDonald’s
Do ponto de vista mercadológico, a aposta do McDonald's nesse público adulto é brilhante. Hoje, as restrições alimentares para crianças têm crescido — com regulações mais rígidas quanto à publicidade infantil e o aumento da conscientização sobre nutrição. Isso levou a rede a buscar novos públicos. E os adultos nostálgicos, com poder de compra e um coração que ainda vibra ao ouvir a palavra "brinquedo", são o alvo perfeito.
Além disso, oferecer algo que combina comida rápida e emoção é um "combo" irresistível. Não estamos falando apenas de alimentar o corpo, mas de entregar um momento de leveza em um mundo saturado de pressões.
O que tudo isso diz sobre nós?
O sucesso dos brinquedos para adultos reflete algo maior: um desejo coletivo de aliviar as cargas da vida adulta e resgatar a magia que parecia tão abundante na infância. Em um mundo cada vez mais acelerado, buscamos escapes que nos conectem a uma versão mais simples e leve de nós mesmos.
Então, se você se pegar na fila do McDonald’s para comprar um McLanche Feliz e o bonequinho que vem junto, saiba que isso não é infantilidade. É, na verdade, uma forma de cuidado emocional, uma tentativa de reencontrar partes de si mesmo que ficaram perdidas em meio às contas a pagar, aos prazos e às responsabilidades.
E quem sabe? Talvez esse simples gesto de "brincar" nos ensine a ser um pouco mais leves e, no fim das contas, mais felizes. Afinal, a criança que fomos nunca desapareceu de verdade — ela só está esperando um convite para brincar.
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