quarta-feira, janeiro 08, 2025

"A Onda": Um Experimento Social que Ecoa na Sociologia Contemporânea

O filme "A Onda" (2008), dirigido por Dennis Gansel, é uma obra de ficção baseada em eventos reais ocorridos na Califórnia em 1967, conhecida como a experiência de Ron Jones. Situada em uma escola alemã moderna, a trama nos convida a refletir sobre a força da coletividade, os perigos do autoritarismo e a fragilidade da democracia. A narrativa é um laboratório vivo de conceitos sociológicos, tornando-se uma referência valiosa para estudantes da área.


Sinopse

Rainer Wenger, um professor carismático, é desafiado a ensinar a seus alunos os fundamentos da
autocracia durante uma semana temática na escola. Apesar da descrença inicial dos estudantes na possibilidade de um regime autoritário ressurgir, Wenger propõe um experimento: criar um movimento chamado "A Onda", regido por disciplina, uniformidade e lealdade.

O grupo rapidamente adota símbolos, uniformes e saudações que reforçam seu senso de pertencimento e exclusividade. A dinâmica, no entanto, sai de controle à medida que os alunos internalizam a ideologia do movimento, resultando em exclusões, violência e, tragicamente, a morte de um estudante. O experimento demonstra como indivíduos podem ser levados a extremos ideológicos quando submetidos a determinadas condições sociais.


Conceitos Sociológicos no Filme

1. Coesão Social e Sentido de Pertença

Durkheim define coesão social como o grau de conexão entre os membros de um grupo. Em "A Onda", o movimento proporciona um forte senso de pertencimento, onde indivíduos outrora marginalizados se sentem parte de algo maior. O filme ilustra como a identidade coletiva pode suplantar as identidades individuais em situações de fragilidade emocional ou social.

2. Liderança Carismática

A teoria de Max Weber sobre liderança carismática é evidente na figura de Rainer Wenger. O professor exerce influência através de seu carisma e habilidade de mobilizar os alunos, estabelecendo uma hierarquia onde sua palavra é lei. Essa liderança demonstra o poder do carisma em mobilizar massas e em legitimar práticas autoritárias.

3. Alienação e Manipulação Ideológica

A alienação, conceito central no pensamento marxista, também aparece na narrativa. Os alunos, embora inicialmente céticos, são progressivamente alienados, submetendo suas vontades individuais ao coletivo sem questionar os objetivos do grupo. Essa submissão é reforçada por mecanismos ideológicos, como símbolos e rituais que unificam e manipulam os integrantes.

4. Conformismo Social

Inspirado pelos estudos de Solomon Asch, o filme retrata o conformismo como um elemento chave. Muitos alunos aderem ao movimento não por convicção, mas por pressão social, medo de exclusão ou desejo de aceitação. Esse aspecto revela a força das normas sociais e o papel do conformismo na reprodução de comportamentos autoritários.

5. Exclusão e Desumanização do Outro

"A Onda" também expõe os perigos da formação de grupos "nós" contra "eles". A desumanização dos que não pertencem ao movimento cria um ciclo de exclusão e violência, reafirmando teorias sobre preconceito e categorização social, como aquelas propostas por Henri Tajfel na Teoria da Identidade Social.

6. Fragilidade da Democracia

Ao abordar a facilidade com que os estudantes se deixam levar pelo autoritarismo, o filme evidencia como instituições democráticas e valores liberais podem ser subvertidos diante de contextos de apatia política, insatisfação social e falta de conscientização crítica, um tema relevante em tempos de polarização política.

Relevância Sociológica

"A Onda" vai além de um drama psicológico e se transforma em uma ferramenta didática para explorar questões como as dinâmicas de poder, as relações entre indivíduo e sociedade e os mecanismos que levam à conformidade ou resistência. A obra nos desafia a refletir sobre como as condições sociais moldam comportamentos e crenças, alertando para os riscos de subestimar os apelos do autoritarismo.

Em tempos de ressignificação de valores democráticos, o filme torna-se um alerta: ideologias extremistas não são produto de contextos distantes ou exóticos, mas podem emergir em qualquer sociedade, desde que as condições certas estejam presentes. A pergunta central que "A Onda" nos deixa é: até que ponto estamos preparados para reconhecer e resistir a esses movimentos antes que seja tarde demais?

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