segunda-feira, julho 03, 2023

Revisitando o texto Luto e Melancolia.

Lembro vividamente do meu primeiro encontro com o texto "Luto e Melancolia" de Freud, um marco em minha jornada acadêmica na disciplina de Psicologia do Direito, no distante ano de 2009. Naquele momento, as palavras de Freud despertaram em mim uma profunda curiosidade e fascínio pela complexidade da mente humana. Agora, ao revisitar essa obra, após tantos anos de aprendizado e experiência, novas conclusões emergem dentro de mim. 

Aprofundar nesse texto novamente me faz refletir sobre a importância da compreensão desses estados emocionais na prática do Direito, pois o conhecimento das complexidades da mente humana é fundamental para uma justiça mais sensível e compassiva. Essa releitura me inspira a explorar ainda mais os conceitos freudianos e sua aplicabilidade no contexto jurídico, buscando uma abordagem mais holística e humanizada.


No texto "Luto e Melancolia", Freud explora a origem da melancolia e estabelece uma relação entre o luto e essa condição psicológica. Ele argumenta que o luto e a melancolia compartilham cenários semelhantes, mas apresentam diferenças significativas em suas manifestações. Enquanto o luto é uma reação em resposta à perda de algo ou alguém, a melancolia é uma forma de depressão que afeta uma considerável parte da população atualmente. É importante ressaltar que o luto não está necessariamente associado à morte, podendo ser uma resposta a outras perdas.


Em sua forma normal, o luto é um estado relacionado à perda e não possui uma origem patológica. Geralmente, é superado dentro de um determinado período, em torno de um a dois anos. No entanto, se o paciente enlutado não receber os estímulos adequados, as características do luto podem se assemelhar à manifestação da melancolia, como desânimo, perda de interesse pelas atividades, inibição e até mesmo perda de apetite.


Freud também discute a presença do sentimento de auto-recriminação e culpa em pessoas com predisposição à neurose obsessiva. No luto normal, pela perda de um ente querido, é comum enfrentar dificuldades em direcionar o amor e a libido para outro objeto, resultando em um desvio da realidade. No entanto, gradualmente e com um grande esforço de energia, o indivíduo supera o luto.


Por outro lado, a melancolia é uma condição psíquica caracterizada por uma elaboração anormal do luto, em que há dificuldade na relação entre o sujeito e a realidade quando ocorre uma perda. Em alguns casos, a perda pode ser identificada, mas não se sabe precisamente o que foi perdido. No melancólico, não é possível identificar exatamente o conteúdo da perda, e perder esse objeto absoluto significa perder a si mesmo.


No contexto da melancolia, surgem sintomas como baixa autoestima, insônia e perda de apetite. Freud sugere que, nesse caso, a libido, sem um direcionamento adequado, se desloca para o ego, estabelecendo uma comparação com o ente perdido. Isso resulta na perda de uma parcela da identidade, e o afeto se volta contra o "ego original" do paciente, causando um conflito interno. Alguns casos de melancolia podem evoluir para o suicídio ou para uma hostilidade em relação ao mundo externo. Enquanto na melancolia o ego sucumbe a esses sentimentos, na mania ele os supera, resultando em um estado de alegria e economia de energia, pois a libido é liberada para novos objetos.


Por fim, aponta-se que Freud argumenta que a recusa à alimentação, perda de peso, insônia, sentimentos de inutilidade e culpa excessiva são características que diferenciam a melancolia e o luto patológico. Ele também destaca a correlação entre melancolia e mania, demonstrada pela ocorrência frequente de diferentes patologias.

Nenhum comentário: