Nas vitrines de colecionadores e nos feeds das redes sociais, uma criatura peculiar, de olhos grandes e expressão travessa, tem chamado atenção: Labubu. Parte do universo criado pelo artista chinês Kasing Lung, Labubu é um dos mais desejados personagens da Pop Mart, empresa de design e comercialização de toy art que virou febre no mundo todo. Mas o que há por trás desse fenômeno que faz adultos enfrentarem filas, investirem pequenas fortunas e se emocionarem com o simples abrir de uma caixinha-surpresa?
O que é toy art?
Toy art, ou designer toy, é uma forma de expressão artística que une o universo dos brinquedos ao design contemporâneo e à arte pop. Criados por artistas plásticos, ilustradores e designers, os toy arts não são brinquedos convencionais, mas sim objetos de arte colecionáveis — produzidos em tiragens limitadas, com forte apelo visual e simbólico.
Essas figuras costumam ser feitas de vinil, resina ou outros materiais duráveis, e frequentemente dialogam com temas como nostalgia, cultura urbana, moda e crítica social. Não têm função lúdica tradicional, e sua função está mais próxima da contemplação e do afeto do que da brincadeira infantil.
Outros fenômenos de toy art
Antes de Labubu, outros personagens já encantaram o público adulto, como:
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Dunny e Munny, da Kidrobot, que foram pioneiros na cultura do "faça você mesmo" no toy art, com figuras em branco para customização.
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Be@rbricks, da Medicom Toy, ursos de design minimalista que já estamparam colaborações com artistas como Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat, Chanel e Nike.
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Tokidoki, da artista italiana Simone Legno, que mistura influências japonesas com design europeu.
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Sonny Angel, pequenos anjos nus de expressão serena que também são vendidos em caixas surpresa, tornando o “mistério” parte da experiência afetiva do consumidor.
Por que adultos se apaixonam por figuras como Labubu?
A febre por Labubu revela muito sobre os desejos e angústias do mundo contemporâneo adulto. Algumas razões que ajudam a explicar essa paixão incluem:
1. Nostalgia e infância ressignificada
Num mundo saturado de responsabilidades, caos e produtividade tóxica, essas figuras remetem à simplicidade da infância. Labubu, com seu visual entre o fofo e o assustador, brinca com essa memória emocional, oferecendo conforto e escapismo.
2. Estética e identidade
A cultura visual contemporânea — especialmente nas redes sociais — valoriza objetos que comunicam estilo, sensibilidade e subjetividade. Ter uma coleção de Labubus não é só ter bonecos: é marcar posição estética e sensível no mundo.
3. Ritual e surpresa
Como muitos toy arts da Pop Mart, Labubu é vendido em blind boxes (caixas surpresa), onde o comprador não sabe qual versão receberá. Isso ativa um circuito de ansiedade, expectativa e prazer, que remete ao funcionamento do desejo — inclusive, como diria Freud, à pulsão escópica (do olhar) e à busca constante de completude que nunca se alcança.
4. Colecionismo como sintoma
A compulsão por colecionar pode ser lida, à luz da psicanálise, como um modo de lidar com a angústia da falta. A coleção oferece a ilusão de controle, de completude simbólica, de ordem no caos. Cada novo Labubu conquistado, porém, não encerra o desejo — ele o perpetua.
5. Comunidade e pertencimento
A febre também cria laços. Grupos de fãs, encontros de troca, perfis dedicados à exposição das coleções formam uma comunidade de sentido e afeto, suprindo a carência de pertencimento que muitos adultos sentem na vida urbana fragmentada.
A explosão de Labubu é mais que moda: é um espelho sensível da nossa cultura contemporânea. É o brinquedo que nos olha de volta, revelando — com olhos esbugalhados e sorriso travesso — o desejo adulto de voltar a brincar, de pertencer, de imaginar, de encontrar poesia no ordinário. No fundo, Labubu talvez seja o símbolo de uma geração que busca, entre a arte e o afeto, um modo menos cinzento de habitar o mundo.
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